Alterações uterinas em homens trans em uso de testosterona

Publicado em 08/10/2024

Um estudo realizado pela equipe do INCT Hormona da UFRGS/ Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS) investigou as mudanças e transformações que podem ocorrer no útero de homens trans em uso de terapia hormonal com testosterona. O artigo “Uterine changes in transgender men receiving testosterone therapy” pode ser lido na íntegra no link: https://academic.oup.com/ejendo/article-abstract/191/2/175/7720652?redirectedFrom=PDF

O objetivo principal do levantamento foi descrever detalhadamente as características histológicas e da expressão imuno-histoquímica dos receptores de estrogênio, progesterona e androgênio no endométrio e miométrio destes pacientes. De acordo com a Dra. Eliane Dias da Silva, a pesquisa buscou, também, relacionar os achados histopatológicos e imuno-histoquímicos com as características clínicas e hormonais desses indivíduos, a fim de avaliar a segurança a longo prazo da Terapia Hormonal de Afirmação de Gênero (THAG) no endométrio.

No total, participaram do levantamento 34 homens trans, dos quais foram avaliados os dados clínicos, sociodemográficos e laboratoriais, bem como achados anatomopatológicos e imuno-histoquímicos. “Os selecionados foram acompanhados pelo Programa Transdisciplinar de Identidade de Gênero (PROTIG) e na Divisão de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e realizaram cirurgia de afirmação de gênero no HCPA, com amostras de tecido uterino armazenadas no laboratório de patologia desta instituição”, explica.

Após a análise dos dados, o estudo concluiu que, apesar do uso prolongado de testosterona, a THAG parece induzir uma atrofia endometrial na maioria dos homens trans, com redução da espessura do endométrio e expressão limitada de receptores de androgênio no endométrio e mais elevada na região do miométrio. “Esses resultados sugerem que o uso de testosterona por cerca de 5 anos é seguro para o endométrio em homens trans que alcançam amenorreia”, comenta a pesquisadora.

Para Dra. Eliane, a pesquisa foi de grande relevância para o aprimoramento da atenção à saúde para a população transgênero. “Ela contribui para uma compreensão mais aprofundada da resposta da terapia hormonal de afirmação de gênero no útero de homens trans”, afirma.

Finalizado o estudo, a especialista acredita que a melhoria da qualidade de vida de homens trans deve estar relacionada sempre a um acompanhamento contínuo e individual da saúde uterina, visando identificar possíveis complicações e ajustar o tratamento conforme necessário. “Isso é particularmente importante para indivíduos que apresentam sangramento ou cólica persistente, mesmo com uso regular de testosterona, seguindo as recomendações atuais para a população cisgênero”, finaliza.