Revisão: Terapia hormonal para função sexual em mulheres na perimenopausa e pós-menopausa

Publicado em 16/01/2024

Uma metanálise realizada pelo grupo do Centro INCT Hormona Universidade de São Paulo (USP), Campus Ribeirão Preto, avaliou os efeitos da terapia hormonal na função sexual em mulheres na perimenopausa e na pós-menopausa. A revisão Hormone therapy for sexual function in perimenopausal and postmenopausal women, que pode ser lida na íntegra no link https://www.cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD009672.pub3/full , é uma atualização de uma outra revisão realizada há dez anos: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23737033/

A professora e pesquisadora do INCT Hormona, Dra. Lucia Lara, acredita que a escolha do tema é de extrema importância. “No Brasil, 49% das mulheres têm queixa sexual e os problemas nessa área crescem conforme aumenta a idade, e pioram muito com o instalar da menopausa, quando mais de 50% das mulheres queixam-se de redução do desejo sexual e entre 70 a 80% delas queixam-se de dor na relação sexual”, comenta.

A especialista afirma que essa situação indica que a redução dos estrogênios para os níveis mínimos após a menopausa é um fator relacionado com essas queixas nas mulheres. “Essa redução na qualidade da função sexual pode ter profundo impacto negativo no bem-estar geral da mulher e na sua relação conjugal”, alerta.

De acordo com a Dra. Lucia, o grupo observou que a prescrição do estrogênio isolado, isto é, sem adição do progestagênio, promove melhora na função sexual de mulheres na pré e pós-menopausa, e nos sintomas relacionados à menopausa, como ondas de calor, sudorese noturna e queixa de ressecamento vaginal. “Em mulheres sem estes sintomas, o efeito positivo foi muito baixo e questionável”, comenta. “O uso do estrogênio isolado, porém, é seguro apenas para mulheres que não têm mais o útero”, alerta.

“Já no caso do estrogênio combinado com o progestagênio não se sabe ao certo se esta combinação tem efeito positivo na função sexual, devido à baixa qualidade dos estudos”, afirma. Segundo a revisão, não há evidência de que os esteroides sexuais sintéticos e os moduladores seletivos de receptores estrogênicos sozinhos ou combinados com estrogênio melhoram a função sexual nessas mulheres.

A Dra. Lucia Lara comenta, também, que este efeito positivo do estrogênio, na função sexual da mulher na peri e pós-menopausa, indica que a terapia hormonal com estrogênio deve ser a primeira linha de tratamento para a mulher que passou a ter problemas sexuais nessa fase da vida. “Somente após testado este recurso, novas modalidades de segunda linha para o tratamento da queixa sexual dessa mulher devem ser implementadas”, explica.

A especialista explica que o efeito do estrogênio para a melhora da função sexual da mulher foi considerado de moderado a baixo devido à heterogeneidade dos estudos. “Para melhorar a qualidade das pesquisas, é necessário desenhar estudos randomizados e controlados, analisando variáveis como: qualidade do relacionamento conjugal, tempo de relacionamento conjugal, diversidade sexual e de gênero, cálculo amostral com base no desfecho primário”, finaliza.