A importância do estresse crônico na interrupção de tratamentos de fertilização in vitro

Postado em 10/07/2023

Com o objetivo principal de entender qual a importância do estresse crônico como causa de desistência e interrupção de tratamentos de fertilização in vitro, uma equipe na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do INCT Hormona, realizou uma revisão sistemática, avaliando as características, prevalência e causas do que foi percebido e relatado como ‘estresse’ por casais que descontinuaram o tratamento. O artigo Characteristics, prevalence and sources of stress in individuals who discontinue assisted reproductive technology treatments: a systematic review pode ser lido na íntegra através do link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36907754/

Segundo o coordenador do Centro, Dr. Fernando Marcos dos Reis, foram incluídos 12 estudos no levantamento, com 15.264 participantes de oito países, e, em todos eles, o  ‘estresse’ foi avaliado por meio de questionários genéricos ou registros médicos, não por questionários de estresse ou biomarcadores validados. “Sabemos que as técnicas de reprodução assistida não passam de 50% de sucesso por tentativa, então, para alcançar a gestação, a maioria das pessoas precisa de dois ou mais ciclos de tratamento, e, para isso, é necessário ter calma, persistência e resiliência”, comenta o especialista.

O Dr. Fernando explica que, até hoje, não há nenhum estudo que tenha medido objetivamente o estresse durante tratamentos de reprodução assistida, quantificando os sintomas e os hormônios envolvidos, como o cortisol, por exemplo. “O que temos são estudos baseados em questionários, nos quais os pacientes indicam os motivos de ter desistido do tratamento, mas é interessante notar que as pesquisas revelam a presença de vários estressores, ou seja, fatores capazes de desencadear a resposta do estresse, tais como a pressão familiar, o alto custo dos tratamentos e o medo de falhar”, explica.

De acordo com o especialista, são necessários novos estudos para que se conheça, com precisão, as características do estresse associado à infertilidade. “Os próximos passos devem ser quantificar o estresse em pessoas que se submetem a tratamentos de reprodução assistida e avaliar o possível benefício de intervenções capazes de reduzir o estresse, como por exemplo terapias cognitivo-comportamentais”, afirma. “Se o estresse for uma causa importante de abandono do tratamento, talvez alguma intervenção destinada a reduzir o estresse ajude as pessoas a se adaptar melhor e prosseguir”, finaliza.