O estresse oxidativo na infertilidade associada à endometriose
Postado em 22/11/2022
O estudo “The Impact of Controlled Ovarian Stimulation on Serum Oxidative Stress Markers in Infertile Women with Endometriosis Undergoing ICSI”, realizado pela equipe do Centro INCT Hormona Universidade de São Paulo (USP) – Campus Ribeirão Preto – avaliou o papel do estresse oxidativo na infertilidade associada à endometriose. O levantamento teve como objetivo dosar e comparar oito marcadores de estresse oxidativo, durante diferentes momentos do tratamento, além de fazer verificar os níveis séricos dos marcadores ao longo da estimulação, dentro do mesmo grupo de pacientes.O artigo pode ser lido através do link: doi: 10.3390/antiox11061161
De acordo com a primeira autora do artigo e pesquisadora do INCT Hormona, Dra. Michele Da Broi, foram avaliados os seguintes momentos: a fase folicular do ciclo antes da estimulação ovariana (D1), após 10 dias de bloqueio hipofisário com agonista do GnRH (D2); no dia da administração do hCG (D3); e no dia da captação oocitária (D4)] de mulheres inférteis com endometriose (independente do estágio da doença -E, ou
subdivididas em estágios iniciais -EI/II e avançados -EIII/IV) e controles inférteis
(fator tubário e/ou masculino).
A especialista explica que há anos o grupo investiga o papel do estresse oxidativo na infertilidade associada à endometriose. “Foram encontradas alterações em marcadores de estresse oxidativo, tanto no soro obtido no dia da captação oocitária, como na fase folicular do ciclo, e no fluido folicular de mulheres inférteis com a doença, quando comparadas ao do grupo controle, sugerindo um comprometimento sistêmico e folicular dessas pacientes”, comenta. “Acreditamos que as lesões endometrióticas promovem uma resposta inflamatória local, com consequente aumento de macrófagos e liberação de citocinas, culminando com um processo oxidativo, que, por sua vez, se reflete sistemicamente via circulação sanguínea”, afirma. “Como os ovários são vascularizados, especialmente nos estágios finais do desenvolvimento folicular/maturação oocitária, acreditamos que o estresse oxidativo sistêmico possa influenciar o microambiente ovariano e comprometer o desenvolvimento oocitário em mulheres com endometriose”, considera a pesquisadora.
Segundo a Dra. Michele, o grupo observou marcadores de estresse oxidativo alterados nas pacientes com endometriose (E, EI/II, EIII/IV) durante todos os momentos avaliados (D1, D2, D3 e D4), em comparação com as pacientes controles, sugerindo um impacto do bloqueio hipofisário com agonista do GnRH e da estimulação ovariana sobre
o equilíbrio oxidativo dessas pacientes, principalmente no dia da captação oocitária. “Ao analisarmos os possíveis efeitos dos diferentes momentos do tratamento dentro de cada grupo individualmente, observamos uma intensa geração de espécies reativas de oxigênio na fase folicular precoce, tanto no grupo controle quanto nos grupos endometriose”, explica.
A pesquisadora também comenta que o grupo conseguiu demonstrar que o bloqueio hipofisário e a estimulação ovariana com gonadotrofinas culminaram com a ocorrência de estresse oxidativo e mobilização do sistema antioxidante nos grupos. “Nas pacientes com EI/II e EIII/IV, a mobilização de potentes antioxidantes foi acentuada no dia da captação
oocitária, possivelmente como uma tentativa de proteger o oócito do dano oxidativo”, afirma.
Ainda de acordo com a Dra. Michele, o fato do grupo não ter encontrado diferenças nos resultados de ICSI entre os grupos endometriose e o controle reforça a hipótese de que capacidade antioxidante total foi eficiente em reprimir o dano oxidativo, promovido no ciclo anterior à estimulação ovariana. “Diante do uso de gonadotrofinas, antioxidantes mais específicos assumiram tal proteção, sugerindo que a mobilização antioxidante durante a estimulação, principalmente no dia que coincide com os eventos finais da maturação nuclear do oócito, poderia evitar danos oocitários, mesmo em pacientes com estágios graves da doença”, comenta.
Para a pesquisadora, os resultados do estudo sugerem que o bloqueio hipofisário, com
agonista do GnRH, e a estimulação ovariana com gonadotrofinas podem aumentar a geração de espécies reativas de oxigênio e exacerbar o estresse oxidativo sistêmico em mulheres inférteis com endometriose submetidas à ICSI, especialmente no dia da captação oocitária. “Apesar de não termos encontrado impacto direto nos resultados de ICSI dessas pacientes, possivelmente pela resposta antioxidante eficiente observada, os dados fornecem perspectivas para estudos, visando desenvolver novas estratégias terapêuticas usando drogas antioxidantes a fim de melhorar a fertilidade natural e/ou evitar as oscilações
redox, observadas durante a estimulação ovariana e, assim, otimizar os resultados de reprodução assistida dessas mulheres, as quais estão expostas a alterações no status oxidativo sistêmico e folicular tanto em ciclos naturais como em ciclos estimulados”, finaliza.