Revisão de dados sobre mulheres com SOP na América Latina

Postado em 13/01/2022

Com o objetivo de fornecer uma visão geral das evidências disponíveis sobre o perfil metabólico de mulheres latino-americanas com a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), a equipe da Sede do INCT Hormona, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (RS), realizou uma revisão sistemática sobre o tema. O artigo “Metabolic Features of Women With Polycystic Ovary Syndrome in Latin America: A Systematic Review” pode ser lido integralmente no link: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34737723/

Segundo um dos autores do levantamento, Dr. Lucas Bandeira Marchesan, apesar da Síndrome dos Ovários Policísticos ser a doença endócrina mais prevalente nas mulheres em idade fértil, existem poucos dados em relação a quem vive com SOP na América Latina. “Muitas vezes, os dados que dispomos são extrapolados de outras populações, como a população norte-americana, europeia ou mesmo asiática, mas, por ser uma doença que pode ter sua expressão fenotípica influenciada por traços genéticos e pelo estilo de vida, tornam-se necessários esses dados regionais”, comenta o especialista. “Em algumas populações, como da Europa e do sudeste da Ásia, por exemplo, observamos alterações metabólicas mais sutis, associadas à SOP, quando comparadas à população de países altamente industrializados, como a norte-americana”, explica.

De acordo com o artigo, foram pesquisados os bancos de dados PubMed, Cochrane Central Register of Controlled Trials e Embase para estudos transversais, de caso-controle ou de coorte com foco em populações de países da América do Sul e Central e México, publicados até 31 de outubro de 2019. Foram selecionados os estudos que relataram os critérios diagnósticos para SOP, com 4.878 trabalhos na busca inicial, dos quais 41 foram incluídos na revisão sistemática.

O Dr. Lucas explica que a primeira conclusão que os pesquisadores chegaram é que os fenótipos A e B (classificação de Rotterdam), que estão associados a um maior número de alterações cardiometabólicas (como obesidade, pressão alta, alteração da glicose e do colesterol e resistência insulínica), são os mais prevalentes na população de mulheres com SOP na América Latina. “Também observamos que, de forma semelhante, nos diferentes países latino-americanos, essas variáveis cardiometabólicas foram piores nas pacientes com a Síndrome, em relação à população de pacientes controles”, afirma. “Essas alterações, além da influência genética, podem ser explicadas pelos hábitos observados nessa população, como, por exemplo, pelo alto consumo de alimentos processados e baixo consumo de alimentos integrais, vegetais e peixes. O fato foi evidenciado em um estudo recente que avaliou hábitos alimentares na América Latina”, explica o médico.

Para o Dr. Lucas, os dados da revisão servem como norte para políticas públicas que devem focar em incentivo a hábitos de vida saudável, especialmente estímulo a uma alimentação mais natural. Entre as recomendações, um maior consumo de vegetais e redução de alimentos ultraprocessados e açúcares. “Aliado a isso, campanhas, estimulando atividades físicas e criação de espaços de lazer, devem fazer parte destes programas. Estas medidas podem ser decisivas para abrandar as alterações metabólicas associadas a essa Síndrome tão prevalente, podendo reduzir a morbidade e, possivelmente, desfechos cardiovasculares desfavoráveis”, finaliza.