Medidas acústicas da voz de mulheres transgênero brasileiras
Postado em 14/07/2021
Uma pesquisa realizada pela equipe da sede do INCT Hormona, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, chegou à conclusão que, por meio de adaptações e maleabilidade vocal, sem intervenções cirúrgicas ou fonoterapia, mulheres trans (pessoas que nasceram com o sexo masculino, mas que se identificam como mulheres) podem chegar à identificação vocal congruente com o gênero feminino com o qual se identificam.
O levantamento analisou o resultados de uma análise vocal acústica de um grupo de mulheres trans em relação às cisgênero (pessoas que se identificam com o sexo de nascimento). O estudo foi publicado no Frontiers in Psychology e pode ser lido na íntegra neste link [ https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2021.622526/full]
De acordo com a pós-doutoranda Dra. Karine Schwarz, participaram do trabalho 30 mulheres transgênero, com idades entre 19 e 52 anos. Já o grupo controle foi composto por 31 mulheres cisgênero, com idades entre 20 e 48 anos. “Um questionário padronizado foi administrado para coletar dados gerais de cada paciente, para melhor caracterizar os participantes. Os sons da vogal “a” de todas elas foram coletados e analisados pelo sistema avançado do Multi-Dimensional Voice Program, um programa computadorizado que avalia medidas objetivas da voz”, explica.
Segundo a pesquisadora, o estudo mostra que as mulheres trans realizam adaptações vocais que interferem na produção vocal. “Isso sugere que, ao longo da vida, realizam adaptações musculares e projeções de fala que resultam em vozes que soam femininas, sem necessariamente passarem por intervenções cirúrgicas e fonoaudiológicas”, comenta. “Entretanto, ressalta-se a importância do acompanhamento fonoaudiológico para evitar sobrecarga do aparelho fonador e orientações sobre saúde vocal”, alerta a fonoaudióloga.
A Dra. Karine explica que o trabalho foi importante, pois as características vocais objetivas encontradas também são relevantes para compreender e auxiliar mulheres trans a serem identificadas socialmente, por meio da voz, como mulheres. “O conforto com a sua voz ou satisfação vocal, não apenas com base na frequência da voz, auxilia o fonoaudiólogo a elaborar o planejamento terapêutico, no entanto, sabe-se que, em alguns casos, há necessidade de cirurgia nas pregas vocais, associada a fonoterapia para feminilização vocal”, reitera. As medidas são relevantes para ampliar a passabilidade social e a autoestima da mulher trans.