Covid-19: incertezas desde a concepção até o nascimento

Postado em 22/03/2021

Em meios às incertezas referentes aos impactos da Covid-19 na saúde de gestantes, fetos e recém nascidos, a equipe do Centro INCT Hormona Universidade de São Paulo – Campus de Ribeirão Preto (USP/RP)  – elaborou um artigo de revisão, que compila os dados científicos existentes sobre a associação do novo coronavírus com os eventos reprodutivos, desde a concepção até o nascimento.

Segundo o vice-coordenador geral do INCT Hormona, Prof. Dr. Rui Ferriani, o estudo foi elaborado devido ao enorme impacto que a pandemia tem tido sobre as questões relacionadas à infertilidade e à gestação. “Há muitas dúvidas sobre o aconselhamento às mulheres que pensam em engravidar, se devem ou não, assim como nas grávidas, nas diferentes fases da gestação, incluindo os eventos finais da gestação”, explica.

O especialista lembra que, no início da disseminação do SARs-COV-2, houve muita preocupação sobre qual seria a consequência da doença em eventos reprodutivos. “Tivemos, recentemente, outras doenças virais de forte impacto no período gestacional, como a Zika, que causa um risco muito aumentado sobre malformações fetais e se acomete durante o primeiro trimestre, e a H1N1, que tem um grande risco para as grávidas”, lembra.  “As primeiras preocupações com a Covid-19 eram similares a estas outras doenças viróticas, e, por isso, temos acompanhado toda a literatura da infecção em todos os estágios gestacionais”, explica.

Dr. Rui comenta, também, que há muitas incertezas sobre o impacto na gestação, principalmente pelo fato de que a observação de grávidas acometidas pela Covid-19 ainda é pequena. “Soma-se ao desconhecimento do vírus sobre a concepção e gestação, as dúvidas quanto à vacinação, pois não há estudos em tentativas de engravidar ou em grávidas, o que gera ainda mais angústias”, reitera.

O artigo conclui que os dados relativos à Covid-19 durante a gravidez ainda são incertos, possivelmente devido à falta de dados, subnotificação de casos e desfechos da doença, além coleta inadequada de amostras biológicas para teste, precisão insuficiente dos testes disponíveis e imprecisão dos modelos matemáticos na previsão do número de indivíduos assintomáticos.

Segundo o estudo, dados de boa qualidade são urgentemente necessários para apoiar um aconselhamento adequado para mulheres que estão tentando engravidar, e para aquelas que já estão grávidas. O artigo termina afirmando que, com evidências limitadas disponíveis até o momento, as incertezas concernentes à concepção ao nascimento inevitavelmente aumentam a possibilidade de adiar a gravidez, se possível, para o cenário pós-Covid-19 ou para aquele com uma vacina eficaz e amplamente distribuída. “Esperamos atualizar estas informações em um futuro breve, conforme novas evidências forem surgindo”, finaliza Dr. Rui.

O artigo completo pode ser lido neste link: https://www.researchgate.net/publication/344071801_COVID-19_Uncertainties_from_Conception_to_Birth