Obesidade e doença hepática gordurosa não-alcoólica em mulheres com SOP

Postado em 18/02/2021

Um estudo realizado pelo grupo do INCT Hormona, da Universidade Federal de Minas Gerais, investigou a associação entre a obesidade e prevalência de doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA), além das suas consequências (cirrose hepática e hepatocarcinoma), em pacientes com Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP),  atendidas no Ambulatório de Hiperandrogenismo do HC, da UFMG.

O estudo “Nonalcoholic fatty liver disease in women with polycystic ovary syndrome: associated factors and noninvasive fibrosis staging in a single Brazilian center” foi planejado para investigar a prevalência e os fatores de risco associados à DHGNA em mulheres com SOP. A pesquisa também avaliou métodos não-invasivos de detecção de fibrose nas pacientes que tiveram os dois diagnósticos estabelecidos.

De acordo com a professora e pesquisadora, Dra. Ana Lúcia Cândido, participante do grupo, a presença de fibrose hepática é um dos principais fatores prognósticos e seu grau está associado ao risco de desenvolvimento de cirrose e carcinoma hepatocelular. “Identificar pacientes com fibrose mais avançada é essencial no manejo destas pacientes e o padrão ouro para seu diagnóstico é a biópsia hepática, mas é um método invasivo, com dificuldades técnicas e alto custo”, comenta. “Por isso, tem se recorrido a métodos não invasivos como os escores FIB-4 e NAFLD fibrosis score, que utilizam dados como contagem de plaquetas, dosagens de glicose, enzimas hepáticas e albumina no sangue, além da idade e do índice de massa corporal”, explica. “São métodos não invasivos, de baixo custo e úteis na prática clínica para afastar a presença de fibrose hepática avançada em pacientes com doença hepática gordurosa não alcoólica”, afirma a especialista.

De acordo com a pesquisadora, o estudo foi realizado após ter sido observada uma prevalência de obesidade entre as pacientes atendidas neste ambulatório (86,7%), apesar de estarem em idade reprodutiva e muitas vezes terem sido encaminhadas devido à infertilidade.

Segundo a Dra. Ana Lúcia, a pesquisa foi realizada com 87 pacientes com SOP e outras 40 sem a síndrome (controle), atendidas no Ambulatório. Os dados coletados mostraram que doença hepática gordurosa não-alcoólica estava presente em 77% das pacientes e, nelas, foram observados valores mais altos do índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal, triglicérides, colesterol total, aminotransferases e de γ glutamiltransferase (GGT), além de evidências de resistência insulínica.

 “A resistência insulínica detectada pelo índice LAP (Produto da Acumulação Lipídica) foi associada com a DHGNA neste estudo, o que reforça ainda mais a utilização deste índice pelo nosso grupo”, explica a especialista. “Os métodos não-invasivos avaliados (índice FIB-4, escore DHGNA e a elastografia / TE- FibroScan), sugerem baixa incidência de fibrose hepática avançada nestas pacientes”, complementa.

O estudo chegou à conclusão de que a obesidade central e os níveis de triglicérides foram identificados como fatores independentes associados com esteatose hepática. “Recomenda-se, portanto, que pacientes com diagnóstico de SOP, padrão central de distribuição de gordura e níveis elevados de triglicérides devem ser avaliadas ativamente à procura de DHGNA”, reitera a pesquisadora. “Esses achados, em especial os que sugerem baixa incidência de fibrose hepática, reforçam, ainda mais, a necessidade de intervir ativamente nestas pacientes, e de forma precoce e preventiva, na reeducação para a saúde, suporte psicoterapêutico e adoção de medidas de estilo de vida saudável, em especial a perda de peso sustentada na grande maioria delas, associada à atividade física aeróbica regular”, finaliza.