Contracepção durante a Pandemia de COVID-19

Publicado em 12/06/2020

Um alerta dos especialistas está chamando a atenção da comunidade científica, em função das dificuldades ao acesso a métodos contraceptivos, durante o período de pandemia do COVID-19.

O artigo, que levanta a questão, foi publicado no The European Journal of Contraception and Reproductive Health Care, tendo como autores Dr. Luis Bahamondes, coordenador Centro INCT Hormona – Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), e Dra. Maria Y. Makuch.

O “Family planning: an essential health activity in the pandemic of SARS-CoV-2” mostra o impacto no dia a dia da população, em diversas áreas de saúde, que não são consideradas como serviços essenciais, como a distribuição de contraceptivos. Segundo o Dr. Luis Bahamondes, a gravidez não planejada pode provocar sérios problemas de saúde pública, incluindo a falta de recursos no pré-natal, abortos inseguros, complicações na gravidez e aumento de taxa de morbimortalidade materna e infantil.

“O que podemos fazer em termos de provisão de contracepção, uma vez que muitas clínicas médicas e hospitais estão enfrentando demandas e desafios extremamente altos para cuidar de pessoas com COVID-19? É necessário reconhecer a importância do planejamento familiar neste momento especial”, enfatiza o especialista.

Para o pesquisador, o impacto negativo em relação à contracepção será muito significativo. O Dr. Luis Bahamondes comenta que ainda há pouca informação sobre os riscos de transmissão vertical do COVID-19 – contaminação no útero ou no parto – ou pelo leite materno. “Também não se sabe se a infecção, no início da gravidez, pode causar algum tipo de problema para o bebê, como ocorre no caso do vírus Zika. Muitas mulheres estão atemorizadas com a ideia de engravidar e contrair a COVID-19.”

O fornecimento de contraceptivos na rede privada é considerado normal, diferente da pública que piorou durante a pandemia. O pesquisador sugere que receitas eletrônicas por e-mail ou aplicativos de mensagens poderiam ser utilizadas para o acesso aos contraceptivos. “Mesmo a colocação de DIU ou implante, que requer atendimento presencial, pode ser feita de forma segura, com o uso de equipamentos de proteção individual e demais protocolos de segurança. Uma possibilidade, por exemplo, seria transferir parte da sala de espera para uma área ao ar livre e colocar as cadeiras bem afastadas. Em alguns locais fora do Brasil, adotou-se um anteparo de acrílico entre o médico e a paciente.”

Ele recomenda às pacientes que utilizam contraceptivos de longa duração, cujos prazos de validade estão se aproximando do término, que aguardem o fim do isolamento social para a substituição, já que, segundo a literatura, são seguros mesmo após um ou dois anos do vencimento. 

Segundo o artigo, é necessário encontrar novas formas de oferecer serviços que não exijam contatos pessoais e, dessa maneira, alcançar mulheres em idade reprodutiva que precisam continuar o uso de contraceptivos, ou para aquelas que desejam iniciar o uso. Dr. Bahamondes reforça que “para quem está utilizando contraceptivos é importante manter o uso do método escolhido, incluindo informações sobre preservativos e fertilidade”.

Números no Mundo

Segundo as principais projeções mundiais da United Nations Population Fund (UNFPA), cerca de 47 milhões de mulheres no mundo podem perder o acesso à contracepção, provocando cerca de 7 milhões de gravidezes indesejadas.

No Brasil, a previsão é que 52% das gestações ocorram sem nenhum planejamento. Segundo o Dr. Bahamondes, entre as adolescentes, o número deve chegar a 62%. “Além disso, apenas 2% das brasileiras em idade fértil (15 a 49 anos) têm acesso a métodos contraceptivos de longa duração, como o DIU (dispositivo intrauterino com cobre ou liberador de hormônio) e implantes, considerados os mais eficazes na prevenção da gravidez”.

Sem previsão de quando as rotinas voltarão à normalidade, a UNFPA está trabalhando com governos e parceiros para priorizar as necessidades de mulheres em idade reprodutiva para encontrar soluções que foquem nos fornecimentos essenciais para a contracepção.

O Dr. Bahamondes enfatiza que é importante modificar algumas políticas públicas de saúde, incluindo o fornecimento de contraceptivos para evitar problemas ainda mais graves no futuro.

Fontes:

United Nations Population Fund [https://www.unfpa.org/press/new-unfpa-projections-predict-calamitous-impact-womens-health-covid-19-pandemic-continues] , Agência Fapesp [http://agencia.fapesp.br/anticoncepcao-e-atividade-essencial-em-tempos-de-coronavirus-alertam-especialistas/33234/] e The European Journal of Contraception and Reproductive Health Care [https://escrh.eu/education/covid-19/]