Vitamina D nas Várias Fases de Vida da Mulher
Publicado em 26/05/2020
A deficiência de vitamina D é prevalente em todo o mundo e considerada como um problema de saúde pública. Apesar de receber este nome, a vitamina D é considerada um hormônio, sendo essencial para a manutenção do cálcio e da saúde óssea. Estudos recentes também apontam para uma possível associação com hipertensão arterial, diabetes, síndrome metabólica, alguns tipos de câncer, doenças autoimunes e infecciosas.
Uma vez na circulação, 85 a 90% da vitamina D circulante são encontradas em sua forma ligada a uma proteína carreadora, produzida no fígado e chamada de vitamin D-binding protein (DBP). A síntese desta proteína é regulada pelos estrogênios e sua concentração apresenta correlação positiva com os níveis totais de vitamina D. A ocorrência de variações genéticas, ou polimorfismos, na sequência de DNA desta proteína pode levar a alterações qualitativas e/ou quantitativas, associadas ao maior risco de deficiência de vitamina D na população.
O Levantamento
O objetivo do trabalho, desenvolvido pela equipe do INTC, foi avaliar qual seria o cenário em uma população feminina que não tem uma doença clínica estabelecida.
Segundo a bióloga Betânia Rodrigues Santos*, “era preciso avaliar como se comportava a vitamina D e algumas variantes genéticas, relacionadas ao seu metabolismo, em mulheres aparentemente saudáveis, pois a presença de patologias poderia confundir a informação”.
O levantamento foi feito com quase 450 mulheres, com idade entre 20 e 72 anos, em um universo amplo, que incluiu diferentes estágios da vida reprodutiva da mulher. “Nossa pesquisa estudou o quão frequente é a deficiência de vitamina D em mulheres sem condições clínicas específicas, além de avaliar a DBP, e, a partir destes dados, calcular a vitamina D livre e a biodisponível”, explicou a bióloga.
As participantes foram separadas de acordo com seu período de vida atual, reprodutivo, na transição menopáusica ou na pós-menopausa. “Observamos que cerca de 40% das participantes tinham deficiência de vitamina D e que mulheres na transição menopáusica ou pós-menopausa apresentaram níveis menores de DBP. Possivelmente isso ocorreu pela queda dos níveis de estrogênio nesta fase da vida. No entanto, a vitamina D total, livre e biodisponível mantiveram-se estáveis, independente da fase de vida das participantes”, disse a pesquisadora.
Desafios da Pesquisa
Assim como os níveis circulantes de vitamina D foram iguais nos grupos estudados, a proporção de mulheres com deficiência de vitamina D também foi similar nas diferentes fases da vida. Além de evidenciar este mecanismo adaptativo, responsável pela manutenção dos níveis de vitamina D observada em mulheres mais velhas, a despeito da redução significativa da DBP, o estudo corrobora a dosagem de 25 (OH) vitamina D total como um método confiável para verificar a deficiência de vitamina D nesta população.
Avaliações Genéticas
Considerando a influência da globulina carreadora sobre a vitamina D total, foram avaliados três polimorfismos da DBP, rs2282679, rs4588 e rs7041. A combinação de dois polimorfismos avaliados simultaneamente, rs4588 e rs7041, é a base genética para as três principais formas circulantes de DBP, conhecidas como GC1f, GC1s e GC2. O rs2282679 e a forma GC2 foram associados ao maior risco para deficiência de vitamina D. Estes resultados sugerem que a presença de determinada sequência no DNA pode contribuir para a deficiência de vitamina D, apesar de não ser um fator determinante desta condição.
Os resultados deste estudo foram recentemente publicados na Plos One: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31830090/?from_term=spritzer+p+santos+b&from_pos=4
Santos BR, Costa NC, Silva TR, Oppermann K, Magalhães JA, Casanova G, Spritzer PM. Prevalence of vitamin D deficiency in women from southern Brazil and association with vitamin D-binding protein levels and GC-DBP gene polymorphisms. PLoS One. 2019 Dec 12;14(12):e0226215. doi: 10.1371/journal.pone.0226215.
* A Dra. Betânia Rodrigues Santos tem mestrado e doutorado em fisiologia pela UFRGS e é atualmente pós-doutoranda vinculada ao INCT Hormona.